terça-feira, 11 de setembro de 2012

Islas Ballestas - Huaca China - Reserva Federal de Paracas

Tahuantinsuyo é como os Incas denominavam seu império, que segundo o Inca Garcilaso De La Vega, um dos primeiros cronistas autóctones a se expressar e escrever na língua castelhana significa: "As Quatro Partes do Mundo". A dominação incaica se estendeu a vastas áreas, abrangendo todos os povos do altiplano até o Norte do Chile, Sul da Colômbia, ocupando os territórios atuais da Bolívia, Peru e Equador e as encostas que descem para o Oceano Pacifico, influindo econômica e militarmente sobre as terras baixas ao Leste e Sul, tanto nos pampas argentinos como na região amazônica. O nome Peru foi dado pelos espanhóis quando chegaram na região, de forma errônea, pois ao sequestrar um indígena que pescava na costa e perguntar-lhe o nome do país, ele atemorizado imaginou que estavam perguntando seu nome e respondeu - Berú - ou qualquer outro som semelhante, levando os conquistadores a considerar o todo pela parte. Esses erros de interpretação eles iriam cometer ainda muitas vezes ao traçar falsas analogias e impingir aos nativos suas crenças, conceitos e superstições medievais de origem européia.

Pela manhã saímos cedo do hostel e nos dirigimos em direção a estação de onibus da Cruz Del Sur, que é uma rodoviária privativa dessa empresa. Deixamos as mochilas no guarda bagagens do local e para matar o tempo até a hora da partida vistamos o Museo Nacional de Arqueologia, Antropologia e História Del Peru ( vejam as fotos na postagem anterior ). Pela tarde embarcamos no ônibus em direção à Ica, ao Sul.

Os ônibus de dois andares com visão panorâmica da companhia são confortáveis e possuem serviço de bordo. No circuito interno de TV passam filmes para distrair os passageiros. O que desagrada um pouco é o som alto do filme que o passageiro é obrigado a escutar. Passou um enlatado americano, um filme ufanista e megalômano de ficção cientifica onde o velho jogo de batalha naval vira argumento para exaltar as qualidades norte americanas e de seus aliados contra improváveis aliens que pretendem invadir o planeta.


Pela janela panorâmica frontal descortinamos uma topografia desértica de montanhas relativamente baixas e arenosas, características da linha costeira, e durante o trajeto de vez em quando surge o Pacifico majestoso que se alonga pela costa numa estrada moderna, com qualidade invejável, de duas pistas e que faz parte da via Panamericana. O ônibus trafega no máximo a 90km por hora pela norma da companhia que podemos comprovar pelo sistema digital no piso superior que informa a variação de velocidade do veículo. A viagem durou toda a tarde e ao anoitecer chegamos à Ica. Providenciamos um taxi para Huaca China, o lugar onde combinamos pernoitar antes de seguirmos para nossa aventura no mar.



OBS: Meu comentário pouco espirituoso ao final dessa tomada se refere ao fato de ser proibido fazer o dois nos toiletes do ônibus e caso fosse necessário devia se avisar o motorista para uma parada obrigatória. Me lembrou os tempos de primário quando tínhamos que pedir à professora para ir lá fora e solicitar o papel higiênico. O constrangimento era tanto que muitos preferiam fazer nas calças a pedir para sair.


Huaca China é um pueblo no meio de dunas arenosas, um oásis com uma laguna ao centro, com vocação turística e ideal para a prática de sandboard e passeios de buggy. Ficamos horpedado num hostel chamado Casa de Arena, cheio de jovens de todos os lugares do mundo e com uma happy hour que se estendia até às 3:00 horas da madrugada. Foi difícil pregar o olho, mas valeu a pena cada minuto que ficamos em Huaca China. Reservamos numa agência local os passeios para as Islas Ballestas de onde se extrae o guano a partir do excremento das aves e o Parque Nacional de Paracas, uma zona desértica a beira do Pacifico para a manhã seguinte.

ISLAS BALLESTAS 

Acordamos às 6:00 horas para esperar a van que ia nos levar até a marina de onde saem as lanchas para as Islas Ballestas, um santuário natural de aves marinhas, leões do mar e um antigo local de exploração do guano. Segundo Darcy Ribeiro em sua obra: "As Américas e a Civilização" - "A primeira associação com empresas estrangeiras se deu com a exploração dos excrementos de guano que, por décadas, constituiu a principal renda da República Peruana".  O guano, rico em propriedades minerais é um excelente fertilizante e antes de ser explorado como riqueza de exportação era utilizado pelos incas em suas áreas de regadio nas encostas rochosas e desertos garantindo a fertilidade da terra, a produção de suas colheitas e a fartura de alimentos. Após a conquista a prática de adubação foi abandonada pelos espanhóis e os sistemas de irrigação destruídos, o que condenou as populações locais a fome e miséria causando um descenso da população, em poucos anos, de cada 20 para 1 habitante e comprometendo as gerações futuras dos séculos posteriores.

A Silvia tomou um Plasil, pois às vezes sofre enjoo com aventuras marítimas. Chegamos na marina e em pouco tempo, depois das burocracias de praxe, embarcamos na lancha que nos levaria até à reserva marinha. O ingresso na Reserva Nacional Sistemas de Islas, Islotes Y Puntas Guaneras é de cincos soles por pessoa fora o ingresso na embarcação que havia sido pago previamente junto com o transbordo de van.

   

Golfinhos cercam as lanchas com movimentos sinuosos em um namoro sensual, natural da espécie que como nós os humanos quando não estão em busca de alimento só pensam no prazer do sexo.



Após o bailado dos golfinhos se afastar para longe da presença humana a lancha seguiu em direção às Islas Ballestas onde novas surpresas naturais estavam a nossa espera. 



Os leões marinhos descansam pachorrentos nesse santuário longe dos seus predadores naturais e protegidos pelas leis ambientais do Peru. Sob olhar vigilante dos guardas marinha e dos turistas curiosos os machos protegem suas fêmeas e reproduzem-se em absoluta tranquilidade. 



O forte odor de guano exala das ilhas enquanto aves sobrevoam em alerta as lanchas que cercam a enseada.




De repente a surpresa, uma baleia azul é avistada pelo piloto da lancha que tenta uma aproximação.



A busca prossegue e todos ficam atentos aos movimentos das ondas tentando distinguir o visitante




Cada movimento gera a atenção dos turistas que ganharam um verdadeiro bonus com a presença de uma espécie que não costuma frequentar esse habitat.



Enfim ela surge com sua beleza para encanto de todos



Retornando às Islas Ballestas para observar os pássaros que preenchem cada espaço de terra. O cheiro do guano enche as narinas. Cormorões, pelicanos e pinguins de Humbolt dividem os espaços dos costões em absoluta algazarra enquanto bandos de leões marinhos descansam para de noite partir em busca de alimento.  




O dia nublado não roubou a beleza do passeio e ainda ganhamos a oportunidade de ver uma baleia azul. Ao fim da manhã a Silvia estava surpreendentemente OK, não ficou enjoada nem nada e eu estava louco de fome, mas naquele dia ainda tínhamos a segunda etapa que era visitar a linda Reserva Natural de Paracas.

OBS: As tomadas foram gravadas por câmera não profissional e servem só para dar uma vaga ideia,  como um instantâneo, das coisas e acontecimentos que ocorreram no dia. Posso garantir que as paisagens e situações gravadas são apenas uma pequena parcela da beleza e exuberância da natureza local.



  

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